As duas
velhinhas eram irmãs. Uma, solteira. A outra, viúva. Tinham por hábito ir,
todos os sábados à tarde, ao cemitério para limpar o túmulo da família e ali
depositar flores. Depois desse serviço, passeavam pelas alamedas entre túmulos,
observando as lápides, as fotos, as datas, imaginando histórias.
Próximo
ao túmulo familiar havia um, todo em mármore, repleto de fotos, principalmente de
jovens.
Passou
a ser comum verem, diante daquele túmulo, um rapaz que permanecia longamente
observando as fotos e orando, encerrando a visita com um sinal-da-cruz sobre
traçado sobre si.
Nunca o
rapaz dizia algo. Um dia, porém, ao chegar avistou as irmãs e, timidamente,
cumprimentou-as com um leve aceno de cabeça. Na outra semana, ao
reencontrarem-se, as irmãs tomaram a iniciativa de desejar ao jovem boa tarde.
Tempos depois, um comentário sobre o tempo. Enfim, passaram a conversar.
As
irmãs souberam que os jovens cujos retratos ornavam o túmulo de família do
rapaz eram irmãos e primos mortos ao longo de anos de uma guerra entre
famílias.
As
irmãs ouviam a história de cada um daqueles mortos, mas tinham grande alegria
em também falar dos seus.
Em
certo sábado, o rapaz não apareceu, nem no outro, nem em várias semanas
seguintes, fazendo, assim, com que as irmãs o fossem esquecendo.
Em um
dos passeios pelo cemitério, após arrumarem as flores no túmulo recém-limpo,
deteram-se no túmulo da família daquele rapaz. Foram olhando as fotos e datas,
comentando entre si o que lhes vinha à mente.
De
repente, a surpresa. Entre tantos retratos de jovens, lá estava o do rapaz que
não mais aparecera.
A partir de então, todos os sábados passaram a
colocar uma flor presa ao retrato. E aos familiares e amigos tinham uma nova
história de cemitério para contar.
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