PAI E FILHO



              O jovem seminarista foi até a casa do velho bispo, chamado por este. Sentaram-se ambos à varanda, olhando a noite quente, sem falarem muito. Geralmente era assim que se encontravam. O seminarista sabia que o seu bispo necessitava mais de companhia do que de palavras.
                Como sempre, o idoso oferecia um bom vinho, mas o jovem, que não bebia, recusava, aceitando, no entanto, refrigerante, suco ou mesmo água.
                Naquela noite, o bispo, olhando para um cigarrete que fumava, disse ao seminarista, após longo silêncio de contemplação do infinito:
              - Quando eu era jovem, na Alemanha, meu pai, em algumas noites quentes em que ficávamos na varanda de casa nos refrescando, dava-me um cigarrete como este e ambos fumávamos juntos. Eu sentia aquilo como um rito de passagem para a idade adulta, como não fosse eu mais uma criança, mas um homem.
                E silenciou, seus olhos perdidos na noite escura.
             O jovem entendeu então o que devia fazer. Ele, que não fumava, pediu ao idoso um cigarrete daqueles. Os olhos do bispo iluminaram-se. Estendeu a caixinha para o seminarista, que pegou um e acendeu, fumando vagarosamente junto com o bispo.
             Ao terminarem, o bispo olhou para o seminarista e lhe disse:
                - Muito, mas muito obrigado mesmo.
           Um gesto tão simples e um elo de pai e filho os acompanhou por toda a vida.

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